terça-feira, 14 de agosto de 2007

UNIDOS VENCEREMOS?

Durante muito tempo, em um planeta distante, os seres que habitavam tal lugar procuravam encontrar a solução para um grande problema que afligia a todos, inclusive os mais ricos. Esse planeta não era pequeno a ponto de as pessoas não conseguirem andar de um lado para o outro sem saber aonde ir, mas também não era grande a ponto delas não atrapalharem umas as outras. Era um planeta médio.
Médio também era a capacidade intelectual dos seres mais sabidos, sendo que os seres menos sabidos não sabiam nem o que era capacidade, muito menos intelecto. Apesar disso, a maioria da população era formada pelos menos sabidos, isso porque eles não sabiam como parar de procriar. Era um planeta bonito. Possuía paisagens incríveis. Mas o problema é que o planeta não girava. Esse era apenas um problema simples, não um grande problema.
O que diferencia um problema simples de um grande problema é que os problemas simples acontecem naturalmente, enquanto os grandes problemas são causados pelas soluções encontradas para os problemas simples.
Para entender as conseqüências de tudo isso, deve-se conhecer a historia desse planeta. Eis aqui um breve resumo:

Durante milhares de anos o planeta se formou. Ninguém sabe dizer como, mas ele desenvolveu a incrível capacidade de não girar no próprio eixo. Logo que os primeiros seres começaram a surgir adquiriram capacidades características. Os seres do lado claro se adaptaram à luz constante. Os seres do lado escuro não sobreviveram. Como em toda sociedade, logo uma espécie superou todas as outras e começou a tomar posse do planeta como se ele fosse sua propriedade. As outras espécies não reclamaram porque sabiam o tamanho da encrenca que a espécie dita mais evoluída iria enfrentar. E como em toda a sociedade que se diz evoluída, formou-se uma hierarquia.
A hierarquia vigente era simples. Quanto maior o órgão reprodutor do ser, mais alto na hierarquia ele estaria. Essa hierarquia foi imposta por um ser que possuía um órgão realmente grande. Tão grande que, ninguém soube explicar como, ele ocupou o topo da própria hierarquia. Essa hierarquia estava fadada ao sucesso, mas o seu fundador enfrentou um grande problema: seu órgão reprodutor era tão grande que ele não conseguiu se reproduzir. Sem descendentes, após sua morte a hierarquia acabou. Foi então que os então hierarquizados sentiram-se na obrigação de formar outra hierarquia, só para não perder o costume. Então, dessa vez o parâmetro era a capacidade de produzir. Quanto menos o ser conseguisse produzir, maior o cargo na hierarquia. Em pouco tempo os seres que produziam sem parar sentiram-se marginalizados. Vale dizer que foi isso que fez com que a hierarquia funcionasse. Mas como a classe mais baixa produzia muito, não tinha tempo de desenvolver o intelecto. Foi por isso que ela logo se multiplicou de forma assustadora, assustando inclusive quem regia o planeta (apesar do planeta ser comandado por uma espécie autodenominada mais evoluída, dentro dessa espécie havia classes de evolução, a hierarquia, e era o topo dela que regia o planeta - muito mal, diga-se de passagem). Em pouco tempo havia mais seres que espaço para eles viverem. E era esse o grande problema.

Voltando ao assunto, a elite logo decidiu encontrar uma solução para arrumar espaço para todos. Pensou-se em matar alguns seres, mas achou-se essa idéia um pouco inviável porque ou eles matavam quem produzia, e passavam a não ter alimentos, ou matavam quem mandava, e não teriam mais moral pra mandar em ninguém. Então, numa reunião de cúpula, alguém teve uma idéia brilhante: fazer o planeta girar para iluminar outras áreas. A idéia era brilhante, mas necessitava da ajuda de todos os habitantes. Para fazer o mundo girar, bastava que todos os seres empurrassem o planeta para um só lado, e isso poderia ser feito se todos os seres andassem para uma única direção. Para os terráqueos, é a mesma coisa que um equilibrista em cima de uma bola.
Todos os líderes acharam a idéia boa, e logo traçaram um plano estratégico para unir todo mundo nessa empreitada. Então, marcou-se uma data para o grande feito (vale lembrar que apesar do planeta não girar, o pessoal de lá também acreditava que era importantíssimo ter uma medida de tempo e criaram uma. Ninguém a entendia, mas todos a seguiam).
Na data prevista todos estavam muito dispostos. Organizou-se varias filas indianas, que lá não eram chamadas de filas indianas porque não havia índia alguma. Vários líderes foram espalhados para controlar as filas, e todos os participantes estavam ansiosos para terminarem aquilo e pegarem a recompensa. Sim, havia uma recompensa. E então, ao toque de um apito, tudo começou.
Todos começaram a andar, marchando, empurrando o chão para traz. E então, após percorrerem um pequeno trajeto, nada havia mudado. Continuaram andando. Um pouco depois, nada de novo ainda. Não desistiram e continuaram andando. Andaram. Andaram. Andaram. E o planeta começou a girar, graciosamente. Todos pararam, admirados. E começaram as comemorações. Alto e baixo nível cumprimentava-se. Todos juntos, unindo forças, conseguiram mudar, literalmente, o mundo onde viviam. A festa foi geral.
Mas então o mundo começou a escurecer. E logo todos estavam no breu absoluto. Não havia mais luz.
Ao termino de uma rotação do planeta, estavam todos mortos. Desacostumados com a escuridão, ninguém sobreviveu.


Ricardo Chinaider, entre treze e cuatorze de agosto de 2007

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho que textos com esse tamanho deveriam ser liberados no formato Widescreen.

Anônimo disse...

haha! Gostei da criatividade.
Engraçado que o texto inteiro cria uma expectativa de sucesso, de que na conclusão a união de todos os seres vivos do planeta vai trazer felicidade, paz... Eis que todo mundo morre, haha.
Não dá pra entender qual é idéia o conto quer passar... De que, por mais que conseguissimos juntar os opostos, no final tudo vai dar errado?
Abraços,