sábado, 26 de abril de 2008

Posso?

Antes do Segundo, Terceiro e quarto capítulos da história, pelo licença para atualizar o blog, com um trecho de um dos livros do Herman Hesse.
Pode????
É que conforme eu vou lendo um livro, sempre faço anotações de trechos, frases e pensamentos que me somam algo, que refletem sentimentos ou coisas que não sabemos como dizer.
Hoje me deu vontade de postar um desses trechos.
Espero que gostem.
Obrigada.


"A comunidade é uma coisa muito bela. Mas o que vemos florescer agora não é a verdadeira comunidade. Essa surgira, nova, do conhecimento mútuo dos indivíduos e transformará por algum tempo o mundo. O que hoje existe não é comunidade: é simplesmente o rebanho.
Os homens se unem porque têm medo uns dos outros e cada um se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de operários, rebanho de intelectuais... E por que têm medo?
Só se tem medo quando não se está de acordo consigo mesmo. Têm medo porque jamais se atreveram a perseguir seus próprios impulsos anteriores. Uma comunidade formada por induvíduos aterrorizados com o desconhecido que levam dentro de si. Sentem que já periclitaram todas as leis em que baseiam suas vidas, que vivem conforme mandamentos antiquados e que nem sua religião nem sua moral são aquelas que ora necessitamos."


Por Herman Hess, digitado por Tassiana

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Primeiro

Minhas noites são meio cinzas.
Ando de bar e bar, enchendo a cara, fumando meu cigarro, pensando na vida.
Perdi minha namorada, por motivos que não cabem aqui, mas que se atrelam à minha loucura interna e a minha libido.

Vai ver que é por isso que ando batendo muita punheta, ou indo atrás de quem o faça pra mim.
Mas já aprendi uma técnica infalível.

Sento-me ao balcão, desses bares escuros, estilo pub inglês, peço meu wishky com gelo, acendo meu cigarro... passo pela mesa de sinuca, e entre a fumaça que ofusca meus olhos, vou em direção a JukeBox.

É tiro e queda, quando coloco um música, sempre vem uma dessas menininhas abertas que já bebeu um pouco além da conta, dizendo:
"AAAI adoro essa música" e fica dançando olhando pra mim.

Ai não tem erro. As vezes ganho mais do que esperava. Os tempos mudaram. Coitado do meu pai e do meu avó que tinham que pegar na mão, conhecer família, casar, e ai sim ter o mínimo prazer.

Outro dia, em meio a essa minha vida de subsolo, estava eu, só (como sempre prefiro estar), sentado em mais um bar (gosto de me sentar no balcão, mas nao faço amizade com os garçons- acho que pra preservar minha solidão e deixar meus pensamentos irem mais longe).

Na mesa de trás, havia uns 5 caras. Babacas.
Falando de coisas inúteis, um se gabando mais que o outro....Acho que todos devem ter o pinto pequeno.
Em certo momento, passou uma dessas mulheres da vida, se eu não me engano passou em direção ao banheiro. Ela tinha cabelos negros cumpridos, usava saia curta, meia-calça, salto alto e batom vermelho.
Um dos caras grita: "OLHA A VAGABUNDA...Vem cá chupar meu pau, sua filha da puta"
Todos os babacas riem. A mulher ignora e passa.

Me pergunto: Por que desprezar uma pessoa assim? Por que fazer dela motivo de chacota, e humilha-la perante seus amigos?
Além do que, elas tem a profissão mais antiga do mundo, te tratam muito melhor do que, as vezes, sua mulher o tratará, não tem frescuras, devem fazer um boquete muito melhor, e vão suprir todas as suas vontades sexuais sem reclamar.
A única coisa que você terá que fazer é dar dinheiro em troca disso tudo. Se você for casado, vai ter que gastar bem mais, ouvir reclamações, e ainda vai ser difícil convencer sua mulher a fazer um ménage.

Babacas.

Quando o dia estava querendo amanhecer, resolvi que devia encerrar esse capítulo por aqui.
Voltei para casa fedendo a cigarro.
Quero dormir até a hora que a tarde cair, para assim partir para mais um capítulo de minha vida.


Por Personagem da cabeça de Tassiana Ghorayeb Resende.
É só o 1º capítulo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Aforismos ou Desaforismos?

" Há muito tempo que eu vivi calado
Mas agora resolvi falar..."

Fazia tempo que eu não dava o ar da graça, como tem sido custumeiro, mas hoje resolvi postar.
Vim falar de um negócio que eu pessoalmente acho legal, assim como o Ferreira Gullar, que são aforismos. Aforismos são aquelas frases geniais, aquelas que você lê e pensa: " Patchã que los pariu, é duca!" E logo vira frase de msn. Então hoje resolvi entrar na onda de gozar com o pau dos outros e deixar alguns aforismos que eu achei sensacionais. Divirtam-se:

“Em nossa sociedade, os homens são paranoicamente ambiciosos, porque a ambição paranóica é admirada como uma virtude e os que alcançam sucesso são adorados como se fossem deuses.”

(Aldous Huxley)

“Em Brasília, todos são cínicos e não entendem como você não possa ser (sobre sua passagem como ministro do governo Collor).”

(J.Lutzsenberguer)

E por falar em cinismo, ai vai uma do mestre Millôr, que pessoalmente virou minha frase de msn:

"O cinismo é isso aí, bicho. Já estão tapando o sol sem a peneira"

(Millôr Fernandes)

"A mente é como um pára-quedas. Só funciona se abri-lo."

(Frank Zappa)

"Não é triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar."

(Barão de Itararé)

Enfim, existem inúmeras, incontáveis e até mesmo impublicáveis aforismos. Sábios são os que fazem, e cabe a nós lê-los e resolver se levamos adiante ou não. O jaguardiões como blog justíssimo que é, postou. Cabe a você ler. Mande suas sugestões, alguns aforismos que você conhece, ou que você goste. No mais vou deixar meu abraço e um até a próxima para vocês.

William Biagioli, 20 anos de idade.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Pequenos Delitos e Outros Acasos

E o sossego se perdeu em cacos e freada. Um acidente. Todavia, mais um. E embora o tempo esteja em grande fase. E embora a chuva ainda caia e molhe a calçada. E embora a fantasia repita a realidade. Morri mais uma vez. Sempre em vão. Nunca à toa, mas sempre por nada.
Um ferido. É isso que restou de mim. Apenas os ferimentos de mais uma morte mal morrida. Uma morte cretina, sem vista para o mar, sem rosas e sem bossa nova. Mais uma, todavia. A noite turva surpreende. Eu, com motivos, fugi. Fugi de mim. Tinha todos os motivos. E, a contragosto, lancei minha cadeira de rodas de encontro ao trem que iria me levar embora. Uma morte rápida e barulhenta. Com freada e cacos voando. Com a esperança do paraíso perdido.

- e hoje, vai fazer o que?
- não sei. O que tem pra fazer?
- nada.
- então, o que não tem pra fazer?

Um urubu lambendo os beiços. A carniça apodrecida em meio à multidão. Uma mulher linda. Outra não. Um sujeito com roupa de antigamente. Outro não. Um cigarro apagado nas nádegas da garota de programa. Outro não. Dois minutos de conversa fiada. Outros dois para lembrar o nome de uma rua. Uma mulher com corpo em forma de copo americano. Eu tinha todos os motivos para morrer. Mas, e agora?

- aqui todo mundo faz tudo e ninguém faz nada.

Tá, tá. Mas como era mesmo aquela música? Aquela que tocava todos os dias na rádio? Uma que todos cantavam? Ela ficava na cabeça, não saia. Colava. Lembra?
Eu tinha motivos. Mas não agora.

- e aí, comeu?

Uma coisa aconteceu duas vezes na minha vida. A primeira e a última. E embora a mulher com corpo de copo americano não volte, eu me lembro dela. Uma coisa que eu não conhecia era o amor. Não conheço ainda. Não o amor delas. O meu eu sei até onde é incapaz. Mas foi então que eu tive motivos. E fui embora, de encontro à morte. Sem vista para o mar, mas rápida e barulhenta. Uma cadeira de rodas abandonada no pátio. Quebrada. Como minha vida. Como minha solidão.

- mini-hang-loooooooose!!!!!

O que eu quero dizer é que não adianta. Por pior que sejamos, sempre há algo terrível para acontecer. Como quando aquela minha ‘tia-esqueleto’ resolveu ter um filho. Mais um. No auge dos seus quarenta e tantos anos. Como ela era incapaz, pegou um que tava por aí dando sopa. E depois tatuou uma maquiagem em sua cara. Na cara dela, não na da criança. Então se deu conta que ela estava muito velha pra cuidar dela, da criança. Principalmente quando começaram os cocozinhos amarelados, as paredes com pegadas e as primeiras palavras. Ou seja, ela achou que o bebe era um cãozinho abandonado que você ‘pega pra cuidar’, e se ele der muito trabalho, você dá praquele sobrinho ‘meio estranho que vive sozinho’. Daí que ela percebeu que estava velha, apesar do esqueleto maquiado, e não ia conseguir dar conta do moleque. E achou por bem ir às gôndolas do Pão de Açúcar pegar uma ‘criança um pouco mais velha’ pra dar essa conta. Outra que tava por aí dando sopa.
Acontece que é assim. Sempre tem algo pior por vir. Porque depois o esqueleto-tatuado disse que tudo isso era em nome de Deus. Legal, Deus deve estar se revirando no túmulo. É sempre assim. A morte chega para quem menos deveria. Eu tinha motivos. Mas, agora?

- ontem eu saí dirigindo sozinho pela rua e resolvi atropelar cachorros.

Acontece que eu erro, porra! Nem sempre tudo é uma maravilha. Por pior que seja. E eu acertei uma cadela por engano. Uma no cio, me parece. Ela nem reclamou muito. Não latiu alto. Não tinha motivos. Tudo sempre tem a sua primeira vez, inclusive a morte. A morte dos outros. A minha já foi. Faz tempo, inclusive.

- Manual para fazer das crianças pobres churrasco ou Modesta proposta para evitar que as crianças da Irlanda sejam um fardo para os seus pais ou para o seu país.

O que eu quero dizer é que eu não lembro direito quando foi, mas sei que uma vez eu fui uma criança. Daquelas gordinhas, que brincavam sem parar e achavam graça em poodles. E talvez eu até sinta vontade de fazer aquilo tudo outra vez, e esteja involuntariamente sendo um babaca por completo. Mas fazer o que? Leite em pó não adianta, bicho! Eu tinha motivos. Mas não queria. Não agora.

- Decadence avec elegance.

E eu lancei minha cadeirinha de rodas ao encontro daquele trem. Um beijo francês, diga-se de passagem. Mas não há paraíso, não há inferno. Só esse eterno purgatório burocrático. A morte não cala, não sossega, não nos deixa descansar. Não há paz. Nunca houve. A morte também é uma forma de colisão. E de vez em quando a gente ta guiando, de vez em quando a gente ta sendo guiado. Não importa. Não adianta se preocupar, nada vai dar certo.


Ricardo Schneider, apesar de tudo.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

FATO

....E ela andou até o ponto de ônibus.
Ficou lá 5, 6 ou 7 minutos.
Esperando....

De repente, lá do lugar mais longe onde os olhos conseguem enxergar, surge uma pessoa de sexo masculino, gritando, sujo, embriagado.

A figura se aproxima, e aos berros mostra o dedo do meio pra quem tiver na frente (não que ele estivesse vendo alguém, mas)....
As pessoas, como não era de se esperar diferente, vão se afastando, na medida em que ele vai passando pelas mesmas.

"- Mas, meu Deus, que perigo essa pessoa pode causar? Ele mal sabe quem ele é." (pensou ela)

O bêbado continuava a gritar, mas nada se entendia do que dizia. Começou a ser motivo de risadinhas.

(PAUSA)

RISADINHAS?
Pelo amor da mãe do guarda, não se faz piada com a desgraça dos outros. Que coisa FEIA.

(voltando....)


Ela, como uma pessoa que tem coração, se comove. Não ri. Não se move, não tem medo.

E ele lá, mostrando o dedo do meio para os motoristas de ônibus, agora e berrando.

"-CUZÃO, VAI TOMAR NO CÚ. VAI TUDO TOMAR NO CÚ"
E cai bem em cima dela.... que ficou parada no mesmo lugar, sem se mexer e ainda tentou ajudar o cara a se levantar.

Nesse mesmo segundo, como que num filme, um motorista mal-comido ou corno, sei la, tem o nobre trabalho de parar seu coletivo, descer e, vendo o estado da pessoa que o xingara, no chão, começou a descer um, dois, três tapas na cabeça do pobre coitado.
"- Quem é o cuzão, fala seu porra, seu merda!"

- Pára moço, pelo amor de Deus, caralho. Olha o estado do cara. Vai trabalhar!!!!!. QUE MERDAAAA

Como que num surto, são essas palavras que saem da boca dela...
Ajudou o cara a se levantar.
Ele tentou dizer alguma coisa à ela, que por 3 vezes ou mais não entendeu.
Ele seguiu seu caminho.

Bêbado, sozinho, sujo, apanhado.

E ela foi pra casa. Sozinha e triste.
Pensando no que poderia fazer.

Até agora não soube por onde começar!



Por Tassiana Resende - fatos de uma vida real e injusta

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Grandes Delitos e Outros Acasos

A felicidade na sala ao lado. Um esqueleto de bolsos vazios conta moedinhas. Flores mortas e incenso. Mais alguns quadros. Tulipas, hortênsias.
Também são flores. Nove rosas vermelhas ao léu, e o vento soprando em seus cabelos. Sol a pino e o mar.
- mar? mas aqui não tem mar!
Sempre tem. As ondas, a orla, os biquínis. Outras formas de se ver. Assim eu fui levando a vida até 1996.
Em 94 eu explodia bombas ao meu redor enquanto Baggio errava o pênalti. Dois anos depois eu já estava grande o suficiente para perder meu próprio pênalti sozinho. E continuei errando.
Corria sempre, sem parar. Corri para o esgoto e encontrei os ratos. Foram eles que me ensinaram o prazer – grande erro – de revirar lixo. Bebi muito chorume em cristais de luxo. Fiquei a um passo do mar, salmão e outras coisas cínicas – e ortodoxas – mas preferi o Leite Moça, mamado na lata.
Comecei a lamber saibro no começo do século e só parei quando não havia mais grãos. Os martelos batiam sem parar. Levei várias marteladas. Uma me atingiu as pernas, fiquei paralítico. Um efeito inevitável é o inchaço. Foi quando vieram os livros. Primeiro um, depois o outro, até ninguém saber mais o que era o que. A ficção vira realidade. A realidade vira ficção. E eu virei o quê?
- como é que se chama aquilo?
“Aquilo”. É, talvez eu tenha virado “aquilo”.
Em 89 quebrei minha primeira gaiola com a cabeça. Ano passado quebrei outra. Um inferno a olho nu. Outro candidato em potencial. Minha mente devassa meu ser. A ignorância dá tchau com ar nostálgico.
- hablas español?
Hablei. E continuei pregando faixas em muros de concreto. O mais alto que minha cadeira de rodas conseguia chegar era baixo demais. Desisti do Leite Moça e passei ao Chicabon. Me diplomei em decepcionar os outros. Caguei pra Shakespeare e Graça Aranha. Virei filósofo sem ler Nietsche.
Uma bomba relógio ou uma máquina do tempo. Tanto faz. Vai demorar pra que tudo exploda do meu jeito. Como em 94. Como quando quebrei as gaiolas na cabeça. (Ou será que elas é que me quebraram?).
Em 1987 eu me perdia de mim mesmo. Nove rosas vermelhas me (re)encontraram.

Ricardo Schneider