domingo, 3 de junho de 2007

Sem querer, querendo ser.

Foi quando eu te vi, andando pela calçada da mesma rua onde te encontrei pela primeira vez. E, assim como da primeira vez, meu coração disparou. Os corpos se encontrando como se por algum truque do destino. Não era truque, não era mágica nem magia, era ilusão.
- Oi.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo, e contigo?
- Tudo. Nossa, quanto tempo hein!
- É, faz tempo.
- Sumiu, nunca mais te vi...
- Eu não, você que sumiu.
Estava certa, ela não havia sumido. Na verdade ela nunca apareceu muito. E eu? Eu sim havia sumido. Talvez tentando encontrá-la perdida em algum sonho, procurando uma palavra, um gesto, um sinal que me fizesse esquecer que era só um sonho.
- Sumimos. Pra não ter discussão... – tentei apaziguar.
Ela ficou quieta.
- Mas e então, como que anda a vida?
- Tudo na mesma e contigo?
Tudo na mesma. Como se eu soubesse o que era o “mesmo” a que ela se referia. Tive a sensação de que ela estava tentando me fazer esquece-la. Normal, sempre procurei ser o pior possível para quem eu não queria ser nada. Sempre é mais fácil abandonar alguém quando esse alguém sente vontade de ser abandonado.
- Estou no correria. Escrevendo pro jornal da faculdade e tentando acertar alguns detalhes dum projeto.
- Fiquei sabendo do jornal, mas não li ainda. Vou ler quando chegar em casa.
- Que bom!
Não era. Seria, se fosse antes, mas naquele momento não era bom. Era como se fosse o normal a ser feito. E nunca é bom seguir a normalidade quando se quer melhorar.
Continuei.
- Bom mesmo! Mas eu vou indo, tenho que terminar um texto pro projeto. Foi bom te encontrar.
- Pois é. Tchau então.
Mentira, não havia projeto. Mas seria bom ela pensar que estou ocupado pensando em algo diferente, algo do qual ela não entenderia. Algo que não fosse ela.
E a despedida aconteceu. Na mesma calçada, na mesma rua. Outra situação, mas sempre com a impressão que algo ainda está para ser resolvido.



Ricardo Schneider, 3 de junho de 2007

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