domingo, 9 de março de 2008

Os Devaneios De Um Barril Quase Vazio

É irremediável como um beijo. Às vezes você se pega pensando coisas estranhas. E não se surpreende com isso. Passava das dez da manhã. Foda-se a chuva e o jazz rouco de mr. King Cole. Eu quero agora o topo, o céu, o limite. Mas nada dava certo após as dez da manhã, e os telefones tocavam sem parar. Ouvir as pessoas só me fez querer explodir meu cérebro. A ignorância às vezes é uma boa saída, embora seja uma doença fatal. Sorrir nem pensar. O HD esquenta sem parar e minhas mãos ficam quentes, muito quentes, enquanto os e-mails são respondidos com pressa. Poderia viajar num coquetel de imagens e sons, mas prefiro a realidade crua e, se possível, nua, servida com fritas e cerveja gelada, num prato de porcelana, com vista para o mar. Não há cura para o tempo. E o tempo é uma doença. Sim, uma doença fatal, que te mata, uma hora ou outra ele te mata, a não ser que a morte chegue antes. É isso, a única saída é a morte. Ou o próprio tempo. Quantos gols foram desperdiçados? O caminho é longo até o topo, e não há bancos nem mirantes no meio do caminho. Há apenas o próprio caminho, e pegar atalhos pode fazer a distância entre o início e o fim ficar cada vez maior. A cada passo, uma imagem que não se repete. A cada passo, uma historia que não volta. A cada passo, uma vingança contra o tempo. Pois se o tempo não para, o jeito é andar junto com ele. Quanto mais rápido, melhor. Mas andar para onde, se não possuímos um manual de instrução para a vida, nem um mapa para as realizações? Andar para frente. Seja lá para onde quer que se vá, que se ande para frente. Só mesmo o tempo pode dizer se estamos indo pelo caminho certo. O mesmo tempo que nos mata aos poucos, nos eleva ao topo. Qual a fronteira entre o certo e o errado? Entre o sim e o não? Entre o bom e o ruim, o bem e o mal? Quem nos responderá senão o tempo? E quem nos faz perder tento tempo quanto o tempo? É irremediável. Como um beijo que não se dá, e se perde por toda a eternidade no tempo. Eu quero o céu e o som, um beijo e um chicabon, quero você e eu, quero nós dois, e quero tempo para tudo, embora tudo só venha com o tempo, embora tudo só venha com você aqui ao meu lado, e então tudo isso será a verdade, com som e imagem.

Ricardo Schneider

Um comentário:

Anônimo disse...

MUITO BOM!!!!