terça-feira, 18 de março de 2008

A Obrigatoriedade

Aqui vai a lista de livros obrigatórios que os futuros candidatos são "instigados" a ler, eis ela (a lista):

Auto da Barca do Inferno (Gil Vicente);
Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida);
Iracema (José de Alencar);
Dom Casmurro (Machado de Assis);
A Cidade e as Serras (Eça de Queirós);
Vidas Secas (Graciliano Ramos);
A Rosa do Povo (Carlos Drummond de Andrade);
Poemas Completos (Alberto Caeiro - heterônimo de Fernando Pessoa);
Sagarana (João Guimarães Rosa).


Toquem os violinos, o barco começa a afundar.

Parabéns, tudo o que vocês vão conseguir é mais um time de idiotas que odeia ler livros.

No fundo no fundo é exatamente isso que vai acontecer. Não que eu esteja sendo pessimista, mas é só analisar a coisa friamente. Vamos lá.

Primeiro: O Sujeito malemá tem tempo pra estudar a caralhada de coisas que ele precisa para fazer o maldito vestibular. E veja lá, nem vamos discutir o vestibular ou não, só o fato de não ter vaga pra todo mundo e você ter que degladiar com outros estudantes por ela, já é uma senhora dor de cabeça que merece um texto por si só. Voltando. E diante dessa imensa falta de tempo, o que ele faz??? Apela para o bom e velho resumo da obra, que tem a mesopotâmica missão de resumir a essência do livro. Ótimo. Deve ser exatamente isso que os simpáticos magistrandos esperam de seus pupilos.

Segundo: Claramente é uma coisa no mínimo muito errada, como diz um grande amigo meu, o China, "Aí é chutar o balde!" Oras bolas, se eles exigem que sejam lidos os nove livros, por que raios não fazer uma prova inteira em cima dos livros? Afinal de contas, muita gente nem lê por que sabe que pode ser que eles (Os Fuvestões e Unicampeões) questionem os senhores candidatos sobre no máximo dois ou três livros, em no máximo 5 questões. Oras, se são uma centena delas,(questões) e você contar com cinco fora, sobram 95. Além de ser cinco a menos para preencher no gabarito. Ainda é gabarito que chama? O sujeito não precisa ler os livros. Afinal de contas é mais fácil se preocupar com o que realmente vai fazer ele passar no vestibular. Os livros deveriam abrir vossas mentes para o mundo, e no entando acabaram virando questõzinhas de vestibular que pouca gente da bola. As grandes obras de Graciliano Ramos, Machadão e Eça viraram A,B,C,D e E.

Terceiro e pior: Impondo dessa maneira o sujeito passa a ter uma raiva desses livros. Eu sei por que eu já estive lá e odiava isso. Não é criado o gosto no sujeito. Vamos lá. Imagine você no primeiro ano do colegial, tendo que ler o simpático livro Vidas Secas de Graciliano Ramos. Primeiro pensamento: "Tomei no Cu" Mas é claro, o livro tem sabe-se lá quantas páginas e conta o sofrimento filho da puta que uma família de retirantes passa para cair fora do lugar onde estão em busca de um lugar melhor. O jovem que ta no primeiro colegial, ou no segundo ou no terceiro não quer ser obrigado a ler o livro, ou pior, ele não quer que alguém chegue pra ele e diga: "Viu, você precisa se preparar para o futuro, se não você vai ficar para trás" ele quer é mais que quem diz isso vá tomar um belo banho na soda. Fato é que ser obrigado não é a solução. Afinal de contas eu duvido que o simpático Graciliano tivesse a pretensão de que seu livro fosse virar tema de uma provinha ai que estimulasse a competição entre jovens. Ele queria que seu livro fosse lido, e não estudado. Apenas Lido. Falo isso com propriedade, Graciliano pintou aqui pra tomar uma cervejinha comigo.

Enfim, o ponto final é de que esses livros deveriam ser lidos ao longo da vida por todos, secas ou não. Nossa literatura deveria ser lida por nós, por prazer, por vontade de ler, por simples prazer a nossa cultura, e no entanto é deixada de lado, na prateleira, por livros de auto-ajuda, quem mexeu no meu queijo? o monge e o buda e essas merda que fazem o velho estilo de literatura "viva eu e foda-se vocês". Fato é que essas listas distanciam nós da nossa cultura, nos afastam do que é nosso, e deixam cada vez mais difícil de ser quebrado, e viva esse discurso reacionário que eu fiz. Discurso Reacionário que tem por essência a libertação dessas amarras, e talvez um pouco de rancor por que eu não consegui passar nem na USP e nem na Unicamp.


P.S: Talvez no dicionário dos Neologismos, de Guimarães Rosa, pudesse pintar um tal de Vestibulando, que é o sujeito que aos poucos vai emburrecendo. E eu fui um deles.

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