segunda-feira, 9 de junho de 2008

Das serenatas restaram os tímpanos.

Deixei jogado num canto meus livros e caderno. Um único caderno, porque um cara como eu não teria mais. Deixei eles lá. E pra ser sincero não to nem aí pra eles. Não que eu desconsidere a importância. São importantes. Assim como atendentes de telemarketing também são. Ou seja, foda-se. Eu não to nem ai se isso vai me fazer falta ou se eu to viajando nas minhas idéias. Foda-se. Foda-se tudo e todos. Eu também. Você também.
O que me irrita não são os livros nem o caderno. Eu gosto de livros. Tenho vários. Leio vários. Leio Buckowski, Henry Miller, John Fante. Tudo junto, tudo ao mesmo tempo. Porque eu não sou de metodologia, e acho uma bosta quando me organizam. Só que eu também acho uma bosta as tardes de sábado no clube. As manhãs de domingo em família. As formas como as pessoas encontraram para amenizarem suas perdas e comemorar seus ganhos. Amenizar o que? Ganharam o que?
Eu não vou mais pegar num lápis. Não vou mesmo. Os livros técnicos que eu joguei naquele canto vão apodrecer ali a partir de agora. Eu não ligo. Eu não quero ligar. Esse é o problema. Sei lá, eu acho que sou uma pessoa cheia de problemas. Eu acho que na verdade eu sou um problema.
Eu me recosto na cadeira e fico encarando tudo o que vejo. Mas não ergo um dedo pra mudar as coisas de lugar. Fodam-se as coisas. Sempre é assim: as coisas aqui, as coisas ali, as coisas lá. E nós. E as pessoas? E você? E eu? E nos dois juntos nas tardes de sábado, bebendo vinho e ouvindo blues? Você gostaria disso não é? Gostaria sim. Eu sei que sim.
Mas as tardes têm sido cada vez mais frias. E os domingos cada vez mais vazios. E você não vem mais com aquele sorriso me pedindo um beijo. E só ta querendo ouvir samba. Nem fumar não fuma mais. E até Paulo Coelho resolver ler. Assim não vai ter jeito. Eu gosto de você, ou gostava, sei lá. Sei lá porque nem sei mais quem você é. Porra, volta!
Os livros vão ficar ali, naquele canto. Você sabe que eu não vou mover um dedo pra pega-los. E você sabe que eu precisaria. Mas só você pode me fazer mudar de idéia. Só você. Você sabe disso. Claro que sabe. Você sabe tudo de mim. Acho até que você é um pouco de mim. Ou era. Não sei. Eu já não sei. Você ta entendendo? Ta entendendo? Porque eu não to. Serio, não to mesmo. Eu já não leio o que escrevo nem ouço o que digo que é pra não ter que pensar demais. E eu não to mais nem aí pro que os outros pensam.
Porra, eu preciso de você! Você não vê? Mas eu preciso de você aqui comigo, não galinhando por ai em qualquer canto. Me ajuda a continuar. Me ajuda. To implorando, você ta vendo. Eu to de joelhos, vê se pelo menos dá a mínima. Pega minha mão e me ajuda a levantar. Acende a luz, liga o rádio. Tira a tv desse canal de putaria. O blues já ta na agulha. Vinho eu comprei. Falta só você. Me tira daqui. Me leva pro céu pela última vez. Me leva pra sua cama e tira a roupa. A minha roupa. A sua roupa. Pela última vez. Pela última vez, e nada mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

adorooo!
voces sao muito bons!!!
O QUE É QUE EU TO FAZENDO AQUI?!?!?!?
acho que devo pedir minha demissão (calma que ainda noa fromalizei)!
=)

Anônimo disse...

E da terra não sobrou pedra sobre pedra depois do glorioso texto. A redenção do fracasso. A iluminação do desespero, prosa e lirismo juntos a serviço do saco cheio. Rasgando como navalha afiada o bom senso escroto do "tem que ser assim". Afinal de contas, e de todas as contas. Ótimo. Parabéns caro Schneider, é bom saber que eu não estou errado.