segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Mas ooooo!!!

‘Help, I need somebody. Help! Not just anybody. Help! You know, I nee’
Foi com um tapa, quase raivoso, ou talvez completamente raivoso, que Mari interrompeu a programação da rádio. Obviamente outros ouvintes, em outros lugares, continuariam ouvindo os quatro rapazes de Liverpool, mas naquele quarto tal música havia completado sua missão: acordar o casal.
O casal em questão é composto, não por acaso, de duas pessoas. Como o leitor já deve ter desconfiado, Mari é uma dessas duas pessoas, e a não ser que ela tenha enganado Deus e o mundo, ela é a mulher do casal. A outra pessoa é seu marido, também conhecido como Alê, chamado por Mari de ‘meu bem’, e cujo nome é Alexandre Gajardo, embora seu sobrenome não venha ao caso.
Levou dois meses para que Alexandre conseguisse ter sua primeira conversa com Mari. Ele a fitava sempre, disfarçadamente, mas não tinha coragem para um approach. Naquela época, ele tinha 23 anos, o que já deveria ser idade o bastante para um homem não ter medo de tomar a iniciativa. Mas não era o caso, e foi isso que encantou ela, Mari, então com 20. Namoraram por dois anos e meio, e então noivaram, como manda o figurino. Mais dois anos de noivado e enfim o relacionamento foi oficializado, com um belo e festivo casamento, como também manda o figurino, num hotel-fazenda próximo da cidade. A propósito, o figurino da noiva, com véu e grinalda, serviu apenas para confirmar o disfarce de ‘virgem pura e inocente’ que ela havia inventado e levava com estrema maestria, enganando os pais dela, os pais dele, e todo mundo que não a conhecesse. Vale dizer que logo nas primeiras semanas de namoro Mari havia se revelado uma hábil e criativa amante no coito, enquanto Alexandre demonstrava ser apenas um coitado.
A cerimônia não foi o que podemos chamar de ‘apenas mais um casamento’. Ela marcou a vida de praticamente todos os presentes, não apenas pela fartura alimentícia, nem pelos barris de cerveja, uísque e outras bebidas destiladas, nem pela ótima qualidade do hotel fazenda que abrigou a todos os convidados, mas principalmente por um pequeno descuido do buffet contratado que acabou desenvolvendo uma nova espécie de salmonela em suas maioneses, ocasionando um desarranjo coletivo nos presentes, várias ambulâncias chamadas às pressas e algumas manchetes nos jornais da cidade. O casal, porém, não sofreu com a bactéria, e também nem poderia: estavam no quarto tendo a primeira relação sexual após o casamento. Era, também, a primeira relação sexual naquela posição já registrada na história do homem após o falecimento de Cleópatra, ou seja, nos anos D.C.
Quando os pombinhos saíram do ninho de amor e apareceram no belo gramado do hotel-fazenda, viram homens e mulheres correndo desesperadamente em sua direção. Os dois acharam que todos queriam lhes abraçar e dar os parabéns, mas na verdade todo mundo passou direto por eles, indo de encontro aos seus respectivos quartos e congestionando assim o sistema de esgoto do hotel. O casal viu também uma porção de pessoas rolando no chão, com dores terríveis no estomago, e, bem, mais uma porção de escatologia que não vem ao caso falar para não ofender a bela decoração branca do local.
Depois desse dia histórico, passou-se redondamente três anos e pouco até o dia de hoje, o dia em que Mari esmagou os Beatles no rádio-relógio. Nesse tempo todo, desde o dia em que se conheceram até agora, a única decepção que Alexandre teve com ela foi descobrir, alguns dias após começarem a namorar, que o nome dela não era Mariana, como ele havia imaginado, mas sim Mari...Mari...Mariiii...argh!, não dá pra dizer esse nome horrível! Hei, hei! Me larga! Me solta! Pára!

Interrompemos a narração desse texto para uma troca imprevista de narrador. O narrador a seguir não é lá grande coisa, mas é o que deu pra contratar. Ele aceitou ter seu salário diminuído caso não tivesse que falar o nome Mari..., bem, caso não tivesse que falar o nome verdadeiro de Mari. Continuaremos com a narração.

Bem, como a história ia dizendo, Alexandre teve apenas uma decepção com Mari ao longo de todo o relacionamento. Com a justificável, esperada e ética atitude do narrador anterior, o barato da história foi cortado ao meio. Portanto, vamos terminar o texto aqui e começar outro, outro dia.


Ricardo Schneider, dizendo besteiras para não calar bobagens, em algum lugar do tempo-espaço conhecendo pessoas interessantes. Fui!

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