sábado, 2 de agosto de 2008

Na mesa de jantar.

Sai para jantar, sozinho, e voltei com o saco completamente cheio. Não que eu estivesse com vontade de ir ao banheiro, por enquanto a Coca Zero que eu tomei continua banhando meu estômago. Voltei com o saco cheio dos namorados e namoradas. Dor de cotovelo? Também.

O fato é que ultimamente, como o sempre intrépido Cléber Machado gosta de ressaltar, as coisas tem ficado um pouco mais sem-graça. Se já não existiam lá muitas coisas com as quais agente pudesse se esbaldar, ultimamente elas foram ficando ainda mais escassas.

A minha última bronca é com o namoro. O namoro virou uma instituição. Daquelas bem segregacionistas, pois é, consigo imaginar em um futuro próximo alguns lugares que proibam a entrada de "Solteiros"

-Opa amigo, quanto que é para entrar?
-r$ 20,00 para cada.
-Como assim "para cada" amigo?
-Só pode casal amigo, e agora dá licença que o senhor está "empacando" a fila.
-Mas e se eu quiser entrar sozinho?
-Vai ter que achar outro lugar. O senhor pode me dar licença?

Não existe problema nenhum, ao menos pra deixar o papo menos moralista, em namorar. Oras quem quiser que namore. O problema é que hoje eu vi inúmeros casais com as mãos entrelaçadas quase que em uma obrigação moral, como se fizesse parte de uma cartilha, daquelas que os caras entregavam em décadas passadas e que basicamente delineava um certo tipo de comportamento. Parem com essa besteira!

Entre uma garfada e outra do meu excelente Kibe Cru com molho de gengibre, eu vi esses casais passando, de mãos dadas e frios como uma geladeira no Pólo Norte. Aonde foram parar as caminhadas vagarosas, que iam com passos lentos, meio tímidos, numa caminhada que mais parecia um balé, onde alguns passos eram trocados por afagos, e carinhos, beijinhos ao pé do ouvido, aonde foram parar?
Aonde foi parar a intimidade? Os casais que eu vi hoje pareciam que mal se conheciam, não me estranharia se na cabeça deles ocorresse: "Eu estou segurando uma mão. De quem será?" Aquele sentimento gostoso de conhecer alguém estimulante, para as meninas um rapaz, e para um rapaz uma menina. Não senhor, hoje em dia os novos casais andam como máquinas, qualquer semelhança com a clássica cena do filme: The Wall do Pink Floyd é mera coincidência.

As mulheres, lindas em seus impávidos colossos de lábios, cabelos e charme também sucumbiram aos tempos modernos. Um andar sem graça, digno da mais pura Norueguesa. O charme da brasileira sumiu no meio do shopping. Elas estão mais provocantes, do que insinuantes. Se é que existe alguma diferença. Para este escritor que escreve, e a voz na sua cabeça que você ouve quando lê, sim, existe uma diferença.

Assim como tudo que vira estabilishment necessariamente torna-se um saco, o namoro é um deles.
E então me mandei daquele lugar e coloquei meus pés no chão. Tremendo banho de realidade para uma noite de sábado que apenas começava.

No caminho de volta fui brindado pelos Deuses com uma cena redentora. Um casal que que facilmente já tinha passado das cinquenta (com trema, mas não sei onde fica no teclado) primaveras, (fato esse comprovado por esse escritor pois os dois falavam de Leila Diniz, a musa da bossa.) andando vagarosamente, conversando francamente, e não como um casal de mongolóides que me deram o prazer de ouvir alguns poucos minutos de sua conversa, enquanto eu ainda jantava, sobre estratégias para crescer dentro de uma corporação. Pois é, este casal que eu tive o prazer de acompanhar por 30 segundos me deu uma boa sensação, a de que nem tudo foi pro saco, pelo menos nem tudo ainda. E eles continuaram em seu balé no asfalto, abraçadinhos, conversando, rindo seus risos e chorando suas pitangas. E quanto a mim, só me restaram as teclas.

Até a próxima.

William Biagioli
(02/08/2008)

3 comentários:

FreakingChina disse...

Eu vi casais de namorados mais animadores pelos lados princesinos

Anônimo disse...

Eita nois

blah disse...
Este comentário foi removido pelo autor.